
Hoje é a primeira vez que escrevo nesse espaço e por isso vou, antes de tudo, me apresentar. Sou da geração dos pais dos que aqui escrevem. Na verdade, sou pai do Victor Machado um dos organizadores desse blog, do Diogo e do Renan, que também freqüentam esse bate-papo. Ou seja, sou de outra geração, outra época. E sou Tricolor de coração, dentro de uma família vascaína, graças a meu avô materno, o grande Marçal, a quem agradeço muito a boa influência.
Sou do tempo em que as alegrias genuínas vinham com as vitórias do seu time, assim como as tristezas vinham com as derrotas. Não havia êxtase, júbilo, comemorações esfuziantes com o fracasso adversário, a não ser que fôssemos o responsável direto (mas aí a alegria era pela nossa vitória). Para gozar um adversário você tinha que conquistar isso no campo, não podia pegar carona com ninguém. É claro que se tirava uma casquinha, mesmo quando não estávamos diretamente envolvidos, mas era só isso, uma casquinha. O direito a sentar a lenha era restrito aos vencedores.
Sou do tempo em que íamos ao Maracanã de ônibus (ainda não havia metrô), cheio, lotado, dividindo espaço lado a lado com o adversário de logo mais. Íamos uniformizados, de bandeira (sim, naquele tempo era permitido entrar com bandeira com mastro de bambu), cantando e enaltecendo o nosso time, e nada de briga. Éramos adversários, mas não inimigos.
Subíamos a rampa lado a lado e só nos separávamos no alto, cada um pro seu lado. Todos podiam escolher a rampa que queriam usar: Belini ou UERJ.
Após o jogo, descíamos pelas rampas de nossa preferência, dividindo espaço entre vencidos e vencedores. Os vencedores cantavam, zoavam (não é da minha época) e os vencidos calavam ou juravam vingança (no bom sentido) no próximo jogo.
Entrávamos todos nos ônibus, lotados, apinhados, com as portas abertas. Os vencidos saíam um pouco antes para pelo menos ter o conforto de viajar sentado. Fingiam dormir. Os vencedores tiravam sarro (esse é da minha época), cantavam, num ônibus lotado, todo mundo grudado uns nos outros, e não saía nem faísca, nenhuma briga.
Nos dias seguintes, as gozações mesmo ficavam restritas àqueles que torciam pelo time vencedor. Os demais, só pegavam de leve. Só os vencedores comemoravam, celebravam e cantavam vitória. Tinham conquistado esse direito no campo.
Hoje em dia tudo mudou. Como já foi escrito nesse espaço, é mais comum gozar com o dos outros do que com o próprio. Afinal, a soma das derrotas de todos os adversários é muito maior que o número de vitórias do nosso time. Eu não consigo.
Não espero que se torça por um adversário em nome do seu estado ou em nome do seu país. Mas dentro da minha geração isso é mais comum do que vocês pensam. Agora, criar torcida uniformizada de um outro clube? Parece demais da conta pra mim.
Os vascaínos que me perdoem, mas pra ilustrar vou citar o Vasco. Nos últimos 5 anos (de julho de 2003 pra cá) as 5 maiores alegrias de vocês foram os fracassos dos adversários (me desculpem se estiver enganado): Flamengo perdendo a Copa do Brasil pro Santo André, Fluminense perdendo a Copa do Brasil pro Paulista, Botafogo sendo eliminado pelo River Plate, Flamengo sendo eliminado pela América do México e Fluminense perdendo a Libertadores pra LDU. Não me venham com o milésimo gol do Romário que estou tentando falar sério.
Alegria não precisa nem ser um título. Por exemplo, a reação do Flamengo no Campeonato Brasileiro ano passado foi um momento de alegria pros flamenguistas.
Atualmente, os torcedores estão caminhando pra ver aquele que escolheu um outro time como inimigo, e não como adversário. E o grande absurdo disso é que todos, sem exceção, tem parentes (pai, mãe, irmão, filho, marido, mulher) que torcem por um time diferente do seu. Eu mesmo tenho mulher e filho, pessoas que amo mais que tudo na vida, torcendo pelo Flamengo. Todos, novamente sem exceção, tem amigos que torcem por outro time. E são amigos, muito amigos.
Mas a zoação, inclusive nesse espaço, é válida e sadia. Mas vamos tentar ficar no limite da zoação. Vamos nos considerar adversários, se possível apenas no momento em que formos nos enfrentar, e não inimigos. E confesso a vocês, a derrota pra LDU doeu, e ainda dói, muito mais que qualquer gozação que se faça.
Pra terminar vou lançar uma charada que vale um almoço pro vencedor.
No final dos anos 60 a CBD resolveu criar um campeonato brasileiro (era assim que a imprensa se referia ao torneio) de futebol, batizado de Roberto Gomes Pedrosa e apelidado de Taça de Prata. A idéia era ter os principais clubes dos principais centros de futebol: Rio (5), São Paulo (5), Minas (2) e Rio Grande do Sul (2). E completar com times de centros em ascensão: Paraná, Bahia, Pernambuco, Ceará, etc. A cada ano, o último colocado daria espaço a um novo clube desses centros menos importantes. Acontece que já na terceira edição (1969), um grande clube do Rio ficou em último lugar, e um outro grande clube do Rio em penúltimo. O regulamento foi alterado, e mantiveram esses clubes no campeonato. No ano seguinte (1970), um clube carioca foi campeão brasileiro pela primeira vez (era assim que a imprensa se referia ao vencedor desse torneio: Campeão Brasileiro). E um grande clube carioca ficou novamente, pelo segundo ano seguido, em último lugar. A chiadeira contra nova virada de mesa foi total. Aí a CBD resolveu mudar tudo, não rebaixar ninguém e aumentar o número de clubes no campeonato brasileiro.
Quais são os 3 clubes cariocas citados anteriormente?
Bom, mas não acabou. Esse novo campeonato tinha uma fórmula diferente: os campeonatos estaduais classificariam para o Brasileirão. O Rio tinha 5, 6 e até 7 vagas. Mas eis que o inesperado acontece. Um grande clube carioca não consegue classificação pelo estadual, mas é convidado a disputar o brasileiro. Três anos depois, isso se repete com dois grandes clubes cariocas.
Quais são esses 3 clubes cariocas? Em que anos esses fatos ocorreram?
A confusão do campeonato de 1987, que queria alijar o Guarani (vice de 1986) e o América (quarto em 1986), foi provocada para acomodar um grande clube carioca que seria rebaixado.
Qual clube carioca estava envolvido nisso?
Pra fechar, em 1999 um clube carioca, juntamente com um gaúcho, denunciou que Sandro Hiroshi, jogador do São Paulo, era gato. Com isso o São Paulo perderia os pontos conquistados contra esses clubes. Porém, contrariando o regulamento, a CBF não só tirou os pontos do clube paulista como decretou o clube carioca vencedor, concedendo 3 pontos e o livrando do rebaixamento.
Qual é esse clube carioca?
Esses casos não se restringem aos grandes clubes cariocas não. Aconteceram também com paulistas, mineiros e gaúchos.
O primeiro a responder corretamente o nome dos clubes e os anos em que os fatos ocorreram ganha um almoço no Porcão. Como existem várias pessoas ligadas ao jornalismo esportivo, acredito que seja fácil chegar às respostas corretas.
Boa sorte a todos e saudações tricolores.
Antonio Machado e Silva - Fluminense